Turma de Licenciatura Plena em Geografia EAD 2013- Uniube

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Geografia Uniube EAD 2013

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A produção atual na Geografia Física


A História da Geografia Física é antiga, poderíamos iniciar uma reflexão a partir de
Humboldt (1982), na introdução de sua obra
Cosmos, escrita entre 1845/62, para quem
existia duas disciplinas que tratavam da natureza: uma a Física, que estudava os processos
físicos, a outra a Geografia Física, que estudava a interconexão dinâmica dos elementos
da Natureza através de uma visão integrada concebida a partir do conceito de paisagem. A
concepção de Geografia Física de Humboldt contrapõe-se às concepções de Ritter (1982)
quando, no ano de 1850, escreve sobre a organização de espaço na superfície do globo e
sua função no desenvolvimento histórico. E também à Ratzel, em seu texto El território, la
sociedad y el estado, de 1898/99, assim como à La Blache (1982). Em artigo escrito em
1899, diz: “o geógrafo estuda na hidrografia uma das expressões em que se manifesta a
região e atua de igual maneira com a vegetação, com as moradias e os habitantes. Não
deve ocupar-se destes distintos temas de estudo nem como botânico nem como economista”
(La Blache,1982).
A busca da articulação entre natureza e sociedade não foi tarefa fácil para os geógrafos.
A bem da verdade, construir uma ciência de articulação na época em que surgiu
oficialmente a Geografia pareceria ser como remar contra a maré, pois neste período a
visão de ciência dominante privilegiava a divisão entre ciências da natureza e da sociedade.
Embora as ciências de caráter integrativo tenham tentado se expressar nesse momento,
a exemplo da Ecologia com Haeckel em 1886, e da Geografia desde antes com Humboldt
e Ritter na década de 1950 a história de seus desenvolvimentos não é expressiva. Ao
contrário da integração, o que prevaleceu no final do século XIX e durante mais da metade
do século XX foi a fragmentação. Disto resultou algo comum aos geógrafos: o esfacelamento
da Geografia e, em particular, de uma parte desta denominada Geografia Física em
diferentes campos do conhecimento. A Ecologia, por sua vez, fica encoberta, sendo revigorada
com o surgimento da idéia de Ecossistema com Tansley em 1935.
A fragmentação científica do século passado é, sem dúvida, a força que promove o
primeiro impacto na existência da Geografia Física. Ainda que na prática os geógrafos
tenham seguido o caminho da especialização, é importante lembrar que, em nível teórico,
renomados geógrafos tentaram a análise integrada do meio físico percorrendo conceitos
como os de Paisagem, inicialmente, Geossistema ou Sistemas Físicos, posteriormente, na
busca desta articulação. Este caminho é retomado nos anos 70, exatamente no período em
que emerge a discussão ambiental e com ela o resgate da Ecologia e da idéia de relação
entre os organismos e seu ambiente.
A emergência da questão ambiental vai definir novos rumos à Geografia Física. Esta
tendência e a necessidade contemporânea fazem com que as preocupações dos geógrafos
atuais se vinculem à demanda ambiental. Por conseguinte, não abandonam a compreensão
da dinâmica da natureza, mas cada vez mais não desconhecem e incorporam a suas
análises a avaliação das derivações da natureza pela dinâmica social.
Esta demanda social e científica exige um repensar da Geografia, das suas velhas
formas de abrangência. Para muitos geógrafos parecerá estranho pensar a inexistência da
Geografia Física. Achamos, no entanto, que esta deva ser uma discussão a ser feita. Cabe
ainda pensar: que trabalhos elaborados na ótica ambiental dizem respeito exclusivamente
à Geografia Física? A particularidade da questão ambiental é ser interdisciplinar por natureza.
Isto exigiu dos geógrafos que escolheram trabalhar nesta perspectiva uma revisão de
seus fundamentos, não sendo mais possível encarar estes estudos como exclusivamente
de cunho natural.
Cabe ainda dizer que visualizar a tendência de superação da dicotomia Geografia
Física
Versus Geografia Humana neste momento histórico não pode ser confundido com o
abandono do conhecimento da natureza em Geografia. O conhecimento da natureza sempre
esteve presente na preocupação analítica dos geógrafos.
Na atualidade, as questões relativas à natureza continuam fundamentais. O que queremos
dizer é que se a natureza assume importância analítica para a ciência, isso se deve
em grande parte à sua deterioração ou à sua importância na construção de novos recursos
e/ou mercadorias a partir, inclusive, de sua possível reprodução em laboratório através da
biotecnologia, exigindo estas temáticas, mais recentemente, uma concepção diferenciada
daquela rotulada de Geografia Física.
Neste contexto, não só se redefine a Geografia como se redefinem todas as áreas que
deram suporte às análises geográficas. Aqui me refiro à Geomorfologia, à Biogeografia, à
Climatologia etc. Estas também reformularam suas análises, privilegiaram algumas abordagens
e algumas escalas de análise em detrimento de outras. Estas transformações dizem
respeito ao contexto econômico e social contemporâneo, em que o desenvolvimento da
ciência e sua relação direta com a tecnologia permitem perceber que, no estágio atual, a
apropriação da natureza se produz, não só em escala macro. Também em escala micro esta
recria a natureza, transfigura a natureza e sua dinâmica, exigindo não só novos métodos de
trabalhar natureza e sociedade, mas também novas formas de conceber o que é natureza e
o que é sociedade.
Estas transformações conceituais se fazem presentes hoje no contexto científico, em
geral, e nas diferentes áreas do conhecimento. De maneira particular, neste texto vamos
expressar algumas tendências da discussão e certos encaminhamentos analíticos no âmbito
da Geografia que enfatiza os estudos da natureza. Para tanto, escolhemos falar a partir
da concepção de tempo em Geomorfologia. Busca-se, por meio desta referência, reler a
Geomorfologia com o objetivo de indicar alguns caminhos característicos de sua atual
preocupação analítica.

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