Turma de Licenciatura Plena em Geografia EAD 2013- Uniube

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Geografia Uniube EAD 2013

terça-feira, 13 de setembro de 2011

FUSOS HORÁRIOS

"Partirei esta noite ainda!" respondeu Phileas Fogg. E acrescentou: "Sendo hoje quarta-feira, 2 de outubro, estarei nesta mesma sala, no sábado, 21 de dezembro, às 20h 45min", apostando 20.000 libras. E assim começou a grande aventura de “A Volta ao Mundo em 80 Dias" (de Júlio Verne). No dia 80 da sua viagem, o Sr. Fogg alcança Londres. Ao sair do comboio, olha para o relógio da estação, e este marca 20h50. Perdeu a aposta!!

Hora local
Antes do século 19, a conservação da hora era um fenômeno puramente local. Cada localidade dispunha de um relógio central que marcava a sua hora oficial. Esta era acertada para o meio-dia, assim que o Sol atingia o zênite (ponto mais alto). A hora local obrigava os viajantes a acertarem constantemente os seus relógios à chegada a uma localidade nova.
Quando as estradas de ferro começaram a operar, a definição dos horários das diversas companhias tornou-se crítica: cada estação representava uma hora de referência diferente, o que gerava grandes confusões. Nos Estados Unidos da América, em que o trem atravessava grandes distâncias, havia que respeitar as mais de 300 horas locais! A padronização de horas por grupos de localidades era essencial para uma operação eficiente do serviço. Assim, grande parte das empresas decidiram fixar cerca de 100 "fusos das estradas de ferro", usados nos horários até 1883.



Tempo Médio de Greenwich

Também a Grã-Bretanha se preocupava com as várias inconsistências das horas locais, em grande parte forçada pelas companhias de estradas de ferro britânicas. Seguindo a idéia de Dr. William Hyde Wollaston (1766-1828), popularizada por Abraham Follett Osler (1808-1903), foi criada uma única hora legal para todo o país (Inglaterra, Escócia e País de Gales); era a primeira nação mundial a implementá-lo! Esta hora legal era medida pelo Observatório Real de Greenwich, em cooperação (desde 1830) com outros observatórios mundiais, e fundamentava-se em eventos astronômicos, em especial na rotação da Terra. O Observatório de Greenwich havia já desempenhado uma posição muito importante na navegação marítima baseada na medição exata do tempo. Na seqüência, na década de 1840, as diversas horas locais britânicas foram substituídas pelo Greenwich Mean Time (GMT) ou Tempo 1 Médio de Greenwich também conhecido por hora de Londres.

A primeira companhia de estradas de ferro britânica a adotar a hora de Londres foi a Great Western Railway, em novembro de 1840. Rapidamente outras companhias a seguiram, e por volta de 1847 quase todas usavam GMT. A 22 de setembro de 1847, uma entidade de normalização industrial, a Railway Clearing House, recomendou que a hora GMT fosse adotada em todas as estações, assim que os correios centrais que faziam a comunicação da hora por telégrafo, o permitissem. Em 1855 já a maioria dos relógios públicos da Grã-Bretanha apresentavam a hora GMT.

Fusos horários
Em 1878, após estudar o movimento da Terra em conjunção com a contagem do tempo civil, o senador canadense Sir Sanford Fleming (1827-1915) propôs um sistema internacional de fusos horários (time zones).
Ele recomendou que o planeta fosse dividido em 24 faixas verticais, cada uma delas representando um fuso de uma hora. Como o planeta tem 360º de circunferência, cada faixa teria uma largura de 15º longitudinais. Esse estudo foi publicado em 1879 no Journal of the Canadian Institute of Toronto. Os EUA viram nesta proposta uma solução excelente para o problema dos horários dos caminhos de ferro. Assim, a 18 de novembro de 1883, as estradas de ferro americanas introduziram esse sistema, reduzindo de 100 para 4 (!!) o número total de fusos horários em solo americano.

Primeiro Meridiano
Em 1884 realizou-se a Conferência Internacional do Primeiro Meridiano, em Washington D. C., Estados Unidos, com o intuito de criar um padrão mundial da hora legal. Participaram 41 delegados de 25 países. Depois de estudados vários projetos, foi escolhido o preconizado por Sir Fleming. A origem do Meridiano desse sistema passaria pelo Observatório Real de Greenwich, convencionado com longitude de 0 º. Os restantes fusos seriam contados positivamente para Este, e negativamente para Oeste, até ao Meridiano de 180º-o Anti-Meridiano, localizado no Oceano Pacífico. Aqui ocorreria a "Linha Internacional de Data" . A resolução passou com 22-1 votos (San Domingo votou contra, França e Brasil abstiveram-se). Nem todos os países adotaram de imediato as novas regras: Portugal só aderiu em 1º de janeiro de 1912.

Linha Internacional de Data?
Como você sabe, o movimento aparente do Sol é de nascente para poente, ou seja, de leste para oeste. Isto é, no mesmo instante, a oeste é "mais cedo" e a leste é "mais tarde"-por exemplo, quando o Sol nasce na Índia, em Portugal ainda é de madrugada.
Observe um mapa-múndi ou um globo terrestre. Fixe seu olhar no Brasil. Ao caminhares daí para o nascente, num dado instante, um ponto a leste estará a um número de horas "mais tarde" que o Brasil. Continue a caminhar na mesma direção; de repente, você passará para o outro lado do mapa (a parte oeste, vista de Portugal). Chegado a Portugal, ter-se-iam passado já um total de 24h (a mais) desde o ponto de partida (pois você foi sempre na mesma direção). Ou seja, você voltou ao início, ao mesmo instante da partida, mas um dia mais tarde! Portanto, na metade do percurso ocorreu uma mudança de data, em que você teria adiantado o calendário por mais um dia. Se um amigo seu tivesse executado o mesmo caminho, em condições iniciais iguais, mas no sentido inverso (para oeste), chegaria com um dia de atraso. Vocês se encontrariam no mesmo ponto, no mesmo instante, com dois dias de diferença!!
Para prevenir esse problema, foi convencionado que a Linha Internacional de Data fosse no Anti-Meridiano de Greenwich.
Aqui ocorre uma mudança de data: atravessando a linha em direção a oeste, vindo de este (E -> O) é preciso retirar um dia à data, ou seja, reviver o mesmo dia; se a travessia for em direção a Este (O -> E), há que acrescentar um dia.
Na figura ainda é possível verificar outra explicação comum para tal fato: Se em Greenwich (ou no Brasil) forem 12h, então, nesse mesmo instante serão 24h na longitude de 180 º, acusando aqui uma mudança de data.

Tempo Universal (UTC)
Com o advento das novas tecnologias, em especial dos relógios atômicos altamente precisos, reconheceu-se que a definição da hora baseada na rotação da Terra (tal como era feita pelo GMT) era inadequada. Paralelamente, em 1967 houve uma redefinição do segundo com a precisão de cerca de um nanossegundo-a fórmula anterior apresentava flutuações de alguns milésimos de segundo por dia. As várias tentativas de relacionar a nova definição do segundo com a hora GMT eram altamente insatisfatórias. Por isso, criou-se uma nova escala horária e, a 1º de janeiro de 1972 foi oficializada uma nova hora universal: Universal Time Coordinated (UTC), ou seja, o Tempo Universal Coordenado.
Por vezes, ainda se ouve falar em hora GMT, um termo desatualizado e, por isso, incorreto. Em vez desse termo, dever-se empregar o termo UT (abreviado), termo oficial e correto. Em linguagem militar é comum apresentar a hora UT com um Z no final da mesma (hora Zulu), indicando a longitude zero.

Aplicação dos fusos
Observe no mapa apresentado, que as linhas de limite do fuso horário não seguem sempre as linhas de longitude na sua plenitude; contornam, na maior parte das vezes, as fronteiras de cada país- opção que recai sobre a autoridade do próprio país. Por exemplo, o Brasil tem três fusos horários, isto é, uma só hora legal por todo o país; se quisesse ser rigoroso deveria ter dois. A China tem também só um (e deveria ter 4). Outros países, como a Índia ou a Austrália, optaram por um sistema de fusos fracionado.
Imagine que não se tinha criado um sistema de fusos e convencionado uma linha internacional de mudança de data, no Anti-Meridiano. Todos os que viajassem para oeste perderiam um dia nas suas vidas sem o saberem como- tal aconteceu à tripulação de Fernão Magalhães na circunavegação do Mundo, em 1519. Pelo contrário, se viajassem para leste, descobririam que menos um dia teria passado. Foi o que aconteceu a Phileas Fogg:
"Sim! Sim, sim, sim!!" gritou Passapartout (o fiel criado de Fogg). "O Sr. enganou-se num dia! Nós chegamos 24 horas adiantados; mas só temos 10 minutos." Encetando uma correria louca, Phileas Fogg, arrastado pelo seu criado, conseguiu chegar nos segundos finais à sala do clube, ganhando a aposta! Afinal a viagem durara apenas 79 dias (legais)!!
1 A tradução correta de "Time" é, nesta disciplina, "Hora"; por exemplo, "Legal Time" é "Hora Legal". Em alguns casos, porém é utilizado como tradução técnica o étimo "Tempo".

Fonte:

Rudolf Appel



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