Turma de Licenciatura Plena em Geografia EAD 2013- Uniube

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Geografia Uniube EAD 2013

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ENERGIA - A POLÊMICA AMBIENTAL

A menor quantidade de chuvas e o conseqüente esvaziamento dos lagos das usinas provocam debates em que se confrontam argumentos variados. Os ambientalistas apontam o desmatamento como uma das principais causas da diminuição das chuvas nos últimos anos em nosso país, ele seria responsável pelas mudanças microclimáticas que atingiram sobretudo as áreas onde se concentram as principais barragens, com destaque para o Sudeste. Um exemplo sempre citado é o caso do rio São Francisco, cujos afluentes, prejudicados pela extinção das matas ciliares, já não apresentam o volume d'água de outros tempos. A expansão agrícola é a principal responsável pela derrubada das matas que ajudam o sistema hídrico. Nas áreas ainda bem preservadas, como o Cerrado e a Amazônia, os incêndios com fins agrícolas já preocupam há muito tempo os ambientalistas, geógrafos meteorologistas.
No Brasil, apesar dos possíveis efeitos da redução das matas sobre o clima e a variação das chuvas, a crise de energia poderia ter sido evitada por um programa continuado de novos investimentos em geração, de modo que as geradoras existentes não fossem obrigadas a consumir seus lagos além da taxa de reposição pelas chuvas. Como desde 1996 não houve investimentos, a maior parte do sistema manteve a produção de eletricidade gastando mais água do que recebia.
Técnicos da área apontam as más conseqüências como fruto de uma política governamental equivocada, centrada na privatização e na ilusão de que investidores privados têm muito interesse em ampliar a oferta de energia. Como a prioridade dos investidores privados é garantir lucros, estes talvez sejam mais garantidos com a escassez, que eleva tarifas.
O professor Ildo Sauer, da Universidade de São Paulo, em recente entrevista, calculou que, a partir de 2003, os consumidores brasileiros estarão carreando para as empresas de energia cerca de cinco bilhões de dólares a mais do que pagam hoje, por ano, em conseqüência do aumento das tarifas. Essa transferência de renda, dos consumidores familiares e empresariais brasileiros, para as geradoras e distribuidoras de energia superará os oito bilhões de dólares anuais a partir de 2006.
Um exemplo do encarecimento da energia elétrica está na termelétrica móvel que a Coelce, do Ceará, está para alugar no exterior. É uma usina embarcada - um navio de 128 metros -, que ficará atracado no porto de Pecém, produzindo 30 megawatts, ao custo de 315 dólares por megawatt (mais de 750 reais, ao câmbio de meados de julho) e consumindo 234 mil litros de diesel por dia. Para comparação, o megawatt hidrelétrico nacional sai por até R$5,50 da geradora, embora a distribuidora o repasse ao consumidor por 160 reais (64 dólares/megawatt).
No ar, a melhor alternativa
No plano anunciado pelo governo em julho, a energia alternativa contribuirá com modestos 1,99 mil megawatts, uma produção correspondente a apenas três das atuais 18 turbinas de Itaipu. O vento contribuirá com 1,03 mil megawatts e o bagaço de cana e restos de madeira com 960. O lixo da cana, da madeira e de outros produtos vegetais, a chamada biomassa, pode desempenhar um papel energético importante nas regiões onde são abundantes, complementando o sistema dominante. É o caso do bagaço de cana em Pernambuco, Alagoas e São Paulo. Nos estados madeireiros, os restos das árvores abatidas é que oferecem a possibilidade.
O vento é a forma de produção inteiramente ambiental, dentre as propostas no pacote de julho, levando-se em conta que as hidrelétricas, com seus lagos imensos, sempre produzem um impacto ecológico na região onde se instalam, ao cobrir matas e campos e até mesmo cidades, desalojando populações. Os defensores da solução eólica acreditam que o Brasil poderia acrescentar o correspondente a algumas usinas de Itaipu ao seu parque de geração, apenas explorando os ventos.
Uma das dificuldades está no desconhecimento do potencial de muitas regiões. Entre os técnicos, há quem sonhe em descobrir o lugar onde o vento faz a curva, pois aí se contaria com lufadas na ida e na volta. Como, apesar da crise atual, acreditam que Deus é mesmo brasileiro, acham que o lugar existe. Outros dizem que o ponto já é até conhecido: a costa cearense, onde se calcula em 12 mil megawatts o potencial de aerogeração - o mesmo que Itaipu. Os prometidos modestos 1,03 mil megawatts de energia eólica parecem indicar que se começa a apostar nessa alternativa.
Nos Estados Unidos, a crise energética está tornando a produção eólica uma espécie de nova corrida do ouro. Fazendeiros já começam a alugar suas terras para a instalação dos cata-ventos. A Associação Americana de Energia Eólica considera este ano como o da consolidação dos negócios do ar: o setor crescerá 60% neste 2001. O aperfeiçoamento das turbinas já baixou o custo de produção para o patamar de R$0,07 a R$0,15 por quilowatt, quando há 20 anos os primeiros experimentos obtinham o mesmo quilowatt ao correspondente a R$0,80 de hoje. O padrão de renda norte-americano viabiliza a nova energia, que, no Brasil, ainda sairia muito cara, pois o megawatt variaria de 70 a 150 reais, quando uma usina hidrelétrica oferece o mesmo megawatt por até R$5,50 - que a distribuidora repassa ao consumidor a 160 reais.
A aerogeração norte-americana está invadindo campos de Minesota, Iowa, Texas, Colorado, Wyoming, Oregon e Pensilvânia e já produzem 2,55 mil megawatts, que até o fim do ano chegarão a 4,05 mil (um terço de Itaipu). Seis outros estados começarão a produzir energia eólica este ano e já se planeja reforçar o abastecimento de Chicago através do parque de aerogeração de Rolling Thunder, em Dakota do Sul, que gerará três mil megawatts. Os técnicos norte-americanos asseguram que os ventos que percorrem as planícies de Dakota do Norte, Kansas e Texas têm potencial para suprir toda a demanda energética dos Estados Unidos. Os 393 mil megawatts novos pretendidos pelo presidente Bush com termelétricas poderiam ser plenamente alcançados em menor tempo através da energia eólica, com a vantagem de não afetar o meio ambiente, garantem esses especialistas.
Na Europa, vários países estão investindo nessa modalidade de energia limpa. A Dinamarca já extrai do vento 15% de sua eletricidade, percentual que no estado alemão de Schleswig-Holstein chega a 19%. Na Espanha, Navarra já incorpora em seu sistema energético 24% provenientes de fazendas de vento. Na França, o plano é produzir cinco mil megawatts até 2010.
A imprevidência dos últimos anos leva o Brasil, um país que está longe de ter esgotado o potencial de geração de energia a partir de hidrelétricas, a priorizar as termelétricas movidas a carvão, óleo ou gás. O consumidor, que enfrentará tarifas mais caras, e o meio ambiente, que será severamente afetado, pagarão a conta do desatino anunciou a possível implantação do chamado Plano B (emergência total), quando haveria cortes de energia de quatro horas seguidas e até um feriado extra semanal, deixando à produção apenas quatro dias por semana. Humoristas já começam a imaginar o que seria um Plano C.
Da surpresa inicial com a crise, o governo federal conseguiu articular o primeiro programa positivo de reforço à capacidade de geração energética: prevê mais 18 hidrelétricas e 15 termelétricas até 2003, ao custo de 13 bilhões de dólares. A maior parte - cerca de oito bilhões - deverão provir de investidores privados. O plano, do ponto de vista ambiental, consolida a opção do governo pela ampliação da chamada energia suja no Brasil, país que se orgulha de sua absoluta predominância hidrelétrica (cerca de 95% da geração), a energia considerada mais limpa, após a solar e a eólica.
As termelétricas usarão gás ou carvão, o que os ambientalistas apontam como uma involução, quando o país ainda dispõe da possibilidade de dobrar sua geração hídrica, que está hoje em 68,4 mil megawatts. Neste aspecto, o Brasil foi premiado pela natureza com bacias fluviais generosas, com potencial para sustentar o desenvolvimento sem sobressaltos, desde que houvesse planejamento de longo prazo.
O abandono recente dessa visão de longo prazo levou ao presente paradoxo de se viver o racionamento, quando o Sul e o Norte, com águas abundantes nas barragens, poderiam equilibrar a demanda elétrica do resto do país. Só agora, porém, novas linhas de transmissão, necessárias para completar e ampliar a interligação entre as diversas regiões, começam a entrar na agenda.
Quando o sistema hidrelétrico estiver totalmente interligado e oferecendo uma espécie de imunidade ao país contra secas regionais, as termelétricas já estarão integradas à paisagem. A crítica dos ambientalistas se prende ao fato de que não deveria ser assim, pois o país conta com saídas menos onerosas.
Com as termelétricas, o Brasil amplia a participação da energia suja em produção elétrica. Os planos em andamento prevêem que a fatia da hidroeletricidade recuará dos atuais 95% para 75%, em 2010, representando 86 mil megawatts dos 115 mil previstos. Os 29 mil restantes serão predominantemente termeletricidade, a gás, diesel, nuclear e até a carvão, com um parque inicial de 49 usinas. Assim, também o Brasil aumentará seu potencial de poluição atmosférica, embora seja o único a dispor de opção mais limpa para ampliar sua geração de energia.
No pacote lançado no princípio de julho, o governo previu a construção de 15 termelétricas, ao custo de US$4,2 bilhões, para operar até 2003, gerando 6.420 megawatts. A hidroeletricidade contribuirá com novos 8.628 megawatts, através de 18 usinas em construção e da ampliação de outras três, entre elas Itaipu, que ganhará duas novas turbinas (1.400 megawatts) e Tucuruí, que dobrará a produção de quatro mil para 8,125 mil megawatts. O acréscimo de quase 20 mil megawatts ao sistema será complementado com a instalação de mais seis mil quilômetros de linhas de transmissão.


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