ANÁLISE DO MERCOSUL
O futuro do  Mercosul: diferentes visões
Pode-se dizer que através do  Mercosul a Argentina teve grande sucesso em sua expansão comercial, apresentando  que esse bloco econômico tem balança superavitária durante grande parte do  período de dez anos de Mercosul. Agora mergulhada em uma crise de grandes  proporções, faz com que o Brasil direcione a maioria de suas exportações para os  Estados Unidos, já com vistas à Alca, e faça do Mercosul um destino secundário.  
 
Sobre a  crise Argentina, o professor Raúl Bernal-Meza (2002) analisa:  
 
No caso argentino,  a crise não pode ser explicada pelo paradigma “centro- periferia” e a  deterioração dos termos de intercâmbio, nem pelo protecionismo do Norte. Embora  que essas condições tenham ajudado, nunca foram determinantes, como aconteceu em  muitos outros países. Diante desse cenário, qual é o prognóstico? Em primeiro  lugar, é preciso compreender que, como conseqüência da implantação do modelo  neoliberal mais radical já conhecido na América Latina, cuja expressão  “capitalismo selvagem” deve ser aplicada aos períodos dos governos Menem e De la  Rúa, a Argentina ficou à beira da anarquia. Muitos analistas falam sobre uma  eventual guerra civil se as políticas de Duhalde fracassarem. Não creio que  exista uma guerra civil, simplesmente pelo fato de não existirem dois modelos  opostos de Estado e sociedade que se contraponham na sociedade argentina, mas é  evidente que um novo modelo de desenvolvimento nacional deve ser discutido neste  país. É nesse contexto que a integração do Mercosul deve encontrar seu novo  destino. 
 
 
E quanto aos  chamados “sócios menores” diante da crise argentina e das decisões unilaterais  adotadas pelos “sócios maiores”? Bem, já há ameaças do Paraguai em adotar  medidas alfandegárias unilaterais visando enfrentar os efeitos das decisões  argentinas e brasileiras. Também o Uruguai advertiu sobre as medidas argentinas,  a credibilidade externa do bloco e a estabilidade das economias regionais.  
 
Para melhor  compreender os modelos de integração, vejamos como a revista “O Economista”  (2003), em sua seção “blocos econômicos”, relata a classificação dos tipos de  processos de integração: 
 
Os processos de  integração classificam-se em diversos tipos, segundo o grau de profundidade dos  vínculos que se criam entre os países envolvidos. Temos primeiro a chamada Zona  de Preferência Tarifária, que assegura níveis tarifários preferenciais para o  conjunto de países que pertencem à Zona. Um segundo modelo é a Zona de Livre  Comércio, que consiste na eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias  que incidem sobre o comércio entre dois ou mais países. Em terceiro há a União  Aduaneira, que é a ZLC dotada também de uma Tarifa Externa Comum, ou seja, um  único conjunto de tarifas para as importações provenientes de países  não-pertencentes ao bloco. O quarto tipo de integração é o Mercado Comum, e que  circulam livremente não só bens, mas também serviços e os fatores de produção –  capitais e mão-de-obra. O Mercado Comum pressupõe ainda a coordenação de  políticas macroeconômicas. 
 
 
Sendo assim,  observamos que o Mercosul é, desde 1º de janeiro de 1995, uma União Aduaneira.  Ou melhor, podemos considerá-lo um projeto de construção de um Mercado Comum que  se encontra na fase de União Aduaneira. Seus objetivos são: a eliminação das  barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os países membros, a  adoção de uma TEC, a coordenação de políticas microeconômicas, o livre comércio  de serviços e a livre circulação de mão-de-obra e capitais. 
 
O professor  Alcides Costa Vaz analisa os últimos acontecimentos no plano das medidas  adotadas externa e internamente por Brasil e Argentina: 
 
Nesse sentido,  observa-se haver um significativo descompasso entre as agendas doméstica e  externa do Mercosul, bem como entre essas agendas e o objetivo formal do Tratado  de Assunção: a livre movimentação de bens, serviços, capital e mão-de-obra  dentro da região. Esse descompasso se acentua ainda mais quando, devido a  demandas setoriais e desequilíbrios macro e/ou microeconômicos, os governos  recorrem a medidas unilaterais, gerando ou exacerbando conflitos que, além de  contaminarem as percepções internas e externas sobre o bloco, terminam revelando  também fragilidades institucionais, como exemplificam a crise desencadeada com a  desvalorização da moeda brasileira, as sucessivas disputas comerciais que se  seguiram e a decisão recente do governo argentino de unilateralmente alterar a  tarifa de importação para bens de capital e bens de consumo finais, perfurando  ainda mais (mesmo que em regime temporário) a tarifa externa comum. 
 
Já o professor Raul  Bernal-Meza (2002) demonstra otimismo quanto ao futuro do Mercado Comum do Cone  Sul. Ele crê inclusive que o bloco pode avançar para um ponto em que seja  irreversível sua trajetória: 
 
Apesar das  dificuldades atuais [...], o Mercosul não parece estar ameaçado politicamente  por nenhuma catástrofe irreversível, nem por nenhuma dificuldade intransponível.  Pelo contrário, as iniciativas derivadas dos compromissos de Florianópolis e  Assunção e a reiteração do governo argentino no compromisso de negociar a Alca  por intermédio do Mercosul, ainda que possam parecer escassas, são elementos que  fazem o bloco avançarem direção a um ponto do qual não haja retorno. 
 
A recente oferta  feita pela União Européia de iniciar uma rodada de negociações, bloco a bloco,  para reduzir as tarifas alfandegárias, incluindo a agricultura, demonstra a  dimensão do Mercosul percebida externamente. Essas negociações, que de fato  significariam uma revisão da política agrícola comum européia, um claro fator de  limitação no aprofundamento das relações comerciais entre ambos os blocos de  integração, obriga os sócios sul-americanos a retomar o caminho das estratégias  conjuntas e discutir temas que, de outra maneira, projetariam um futuro sine  die. 
 
Para o historiador  e diretor do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados, Paulo Vizentini  (2003), a Alca é inevitável, mas dentro dela deve ser discutido a criação de um  espaço para a inserção do Mercosul: 
 
Num quadro de  acirramento dos problemas ligados à globalização, o Mercosul é, cada vez mais,  percebido como um bom instrumento para articular-se uma nova modalidade de  inserção internacional dos países sul-americanos. Apesar das incertezas que  ainda persistem, poucos atores ainda questionam o caráter indispensável do  processo. Assim, ao mesmo tempo em que se rediscutem os mecanismos decisórios e  as instituições necessárias para um adequado funcionamento do Mercosul, questões  como o aprofundamento e a ampliação do mesmo tornam-se estratégicas. Por último,  é necessário responder aos desafios da proposta de integração hemisférica  representada pela AlcaA, e do lugar do Mercosul dentro dela. 
 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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