Turma de Licenciatura Plena em Geografia EAD 2013- Uniube

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Geografia Uniube EAD 2013

quinta-feira, 15 de março de 2012

Fundamentos Estéticos, Políticos e Éticos do Novo Ensino Médio

Houve tempo em que os deuses existiam, mas não as
espécies mortais. Quando chegou o momento assinalado
pelo destino para sua criação, os deuses for maram-nas nas
entranhas da terra, com uma mistura de terra, de fogo e dos
elementos associados ao fogo e à terra. Quando chegou a
ocasião de as trazer à luz, encarregaram Prometeu e
Epimeteu de as prover de qualidades apropriadas. Mas
Epimeteu pediu a Prom eteu que lhe deixasse fazer sozinho
a partilha. “Quando acabar, disse ele, tu virás examiná -la”.
Satisfeito o pedido, procedeu à partilha, atribuindo a uns a
força sem a velocidade, aos outros a velocidade sem a
força; deu armas a estes, recusou -as àqueles , mas
concedeu-lhes outros meios de conservação; aos que
tinham pequena corpulência deu asas para fugirem ou
refúgio subterrâneo; aos que tinham a vantagem da
corpulência esta bastava para os conservar; e aplicou este
processo de compensação a todos os ani mais. Estas
medidas de precaução eram destinadas a evitar o
desaparecimento das raças. Então, quando lhes havia
fornecido os meios de escapar à mútua destruição, quis
ajudá-los a suportar as estações de Zeus; para isso,
lembrou-se de os revestir de pêlos e spessos e peles fortes,
suficientes para os abrigar do frio, capazes também de os
proteger do calor e destinados, finalmente a servir, durante o
sono, de coberturas naturais, próprias de cada um deles;
deu-lhes, além disso, como calçado, sapatos de corno o u
peles calosas e desprovidas de sangue; em seguida deu -
lhes alimentos variados, segundo as espécies: a uns, ervas
do chão, a outros frutos das árvores, a outros raízes; a
alguns deu outros animais a comer, mas limitou sua
fecundidade e multiplicou a das v ítimas, para assegurar a
preservação da raça.
Todavia, Epimeteu, pouco reflectido, tinha esgotado as
qualidades a distribuir, mas faltava -lhe ainda prover a
espécie humana e não sabia como resolver o caso. Então
Prometeu veio examinar a partilha; viu os animais bem
providos de tudo, mas o homem nu, descalço, sem cobertura
nem armas, e aproximava -se o dia fixado em que ele devia
sair do seio da terra para a luz. Então Prometeu, não
sabendo que inventar para dar ao homem um meio de
conservação, roubou a Hef aisto e a Ateneia o conhecimento
das artes com o fogo, pois sem o fogo o conhecimento das
artes é impossível e inútil, e presenteou com isto o homem.
O homem ficou assim com ciência para conservar a vida,
mas faltava -lhe a ciência política; esta, possuía -a Zeus, e
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Prometeu já não tinha tempo de entrar na acrópole que Zeus
habita e onde velam, aliás, temíveis guardas. Introduziu -se,
pois, furtivamente na oficina comum em que Ateneia e
Hefaisto cultivavam o seu amor às artes, furtou ao Deus a
sua arte de mane jar o fogo e à Deusa a arte que lhe é
própria, e ofereceu tudo ao homem, tornando -o apto a
procurar recursos para viver. Diz-se que Prometeu foi depois
punido pelo roubo que tinha cometido, por culpa de
Epimeteu.
Quando o homem entrou na posse do seu qui nhão
divino, a princípio, por causa da sua afinidade com os
deuses, acreditou na existência deles, privilégio só a ele
atribuído, entre todos os animais, e começou a erguer -lhes
altares e estátuas; seguidamente, graças à ciência que
possuía, conseguiu arti cular a voz e formar os nomes das
coisas, inventar as casas, o vestuário, o calçado, os leitos e
tirar alimentos da terra. Com estes recursos, os homens, na
sua origem, viviam isolados e as cidades não existiam; por
isso morriam sob os ataques dos animais selvagens, mais
fortes do que eles; bastavam as artes mecânicas, para os
fazer viver; mas tinham insuficientes recursos na guerra
contra os animais, porque não possuíam ainda a ciência
política de que a arte militar faz parte. Por conseqüência
procuraram r eunir-se e pôr -se em segurança, fundando
cidades; mas, quando se reuniam, faziam mal uns aos
outros, porque lhes faltava a ciência política, de modo que
se separavam novamente e morriam.
Então Zeus, receando que a nossa raça se extinguisse,
encarregou He rmes de levar aos homens o respeito e a
justiça para servirem de normas às cidades e unir os
homens pelos laços da amizade. Então Hermes perguntou a
Zeus de que maneira devia dar aos homens a justiça e o
respeito. “Devo distribuí -los, como se distribuíram as artes?
Ora as artes foram divididas de maneira que um único
homem, especializado na arte médica, basta para um
grande número de profanos e o mesmo quanto aos outros
artistas. Devo repartir assim a justiça e o respeito pelos
homens, ou fazer que pertença m a todos?” – “Que
pertençam a todos, respondeu Zeus; que todos tenham a
sua parte, porque as cidades não poderiam existir se estas
virtudes fossem, como as artes, quinhão exclusivo de
alguns; estabelece, além disso, em meu nome, esta lei: que
todo homem i ncapaz de respeito e de justiça seja
exterminado como o flagelo da sociedade”.
Eis como e porquê, Sócrates, os atenienses e outros
povos, quando se trata de arquitectura ou de qualquer arte
profissional, entendem que só um pequeno número pode dar
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conselhos, e se qualquer outra pessoa, fora deste pequeno
número, se atreve a emitir opinião, eles não o toleram, como
acabo de dizer, e têm razão, ao que me parece. Mas,
quando se delibera sobre política, em que tudo assenta na
justiça e no respeito, têm razão d e admitir toda a gente,
porque é necessário que todos tenham parte na virtude
cívica. Doutra forma, não pode existir a cidade.
Platão, Protágoras.


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