Turma de Licenciatura Plena em Geografia EAD 2013- Uniube

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Geografia Uniube EAD 2013

sábado, 31 de dezembro de 2011

Resenha do texto "A natureza do espaço" de Milton Santos

Introdução.
Milton Santos faz uma breve introdução afirmando que a principal forma de relação entre o homem e o meio é dada pela técnica, e que, as técnicas “são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço.”
1. A Negligência com as Técnicas.
Nesse tópico, Milton Santos, aborda a maneira como os estudos empreendidos sobre o fenômeno técnico são realizados. Ele afirma o fenômeno técnico não é totalmente explorada. E isso ocorre por que a técnica é analisada como se não fosse parte do território, um elemento de sua construção e transformação. Para Santos o espaço geográfico não é apenas um palco das ações. Considerando apenas as técnicas de produção, isto é, a técnica específica, chegamos a noção de espaço industrial, agrícola ou econômico. Só podemos alcançar a noção de espaço geográfico quando consideramos o fenômeno técnico em sua total abrangência.
Alguns autores, que falam dessa problemática, são citados no texto. B. Joerges crítica o fato de sociólogos e cientistas políticos não reconhecerem que a “tecnologia embutida nos objetos constitui matéria central da análise sociológica.” M. Mauss propõe a criação de um saber que se ocuparia do conjunto das relações entre as técnicas e o solo e entre o solo e as técnicas. Ele diz que “em função das técnicas é que observamos a base geográfica da vida social: o mar, a montanha, o rio e a laguna.” François Sigaud crítica os geógrafos, afirmando que “os geógrafos evitam tão sistematicamente o estudo das técnicas que estão no centro das relações sociedade-meio.” Pierre George lembra que “a influência da técnica sobre o espaço se exerce de duas maneiras e em duas escalas diferentes: a ocupação do solo pelas infra-estruturas das técnicas modernas (fábricas, minas, carrières, espaços reservados à circulação) e, do outro lado, as transformações generalizadas impostas pelo uso da máquina e pela execução de novos métodos de produção e de existência.” Para Pierre Gourou “o homem, esse fazedor de paisagens, somente existe porque ele é membro de um grupo que em si mesmo é um tecido de técnicas.” Ele também acredita que o nível de civilização seja medido pelo próprio nível das técnicas. O primeiro geógrafo a ter uma noção abrangente da técnica foi Maximilien Sorre. Ele acredita que “essa palavra técnica deve ser considerada no seu sentido mais largo, e não no seu sentido estreito, limitado a aplicações mecânicas e para ele a noção de técnica “estende-se a tudo o que pertence à indústria e à arte, em todos os domínios da atividade humana”. De acordo com Sorre, os estudos geográficos devem levar em conta, simultaneamente, as técnicas da vida social, as técnicas da energia, as técnicas da conquista do espaço e da vida de relações e as técnicas da produção e da transformação das matérias-primas. André Fel lembra que “se os objetos técnicos se instalam na superfície da terra, fazem-no para responder as necessidades materiais fundamentais dos homens: alimentar-se, residir, deslocar-se, rodear-se de objetos úteis.”
2. A Técnica, Ela Própria, É um Meio

Santos começa comentado que para a técnica servir como uma base para uma explicação geográfica, devemos considerar a própria técnica como um meio. Santos continua citando vários autores que já consideraram essa proposta, como G. Böhnee que escreveu sobre a Tecnoestutra, definido como o resultado das inter-relações essenciais do sistema de objetos técnicos com as estruturas sócias e ecológicas.

Santos segue para a questão do que constitui um objeto técnico, e escreve que tanto os objetos artificiais quanto os objetos naturais podem ser objetos técnicos se cumprem o critério do uso possível. Segundo a autora M. Akrich, um objeto técnico define ao mesmo tempo os atores e um espaço. Mas o espaço não só é formado de objetos; também determina os objetos porque o espaço é um conjunto de objetos organizados e utilizados segundo uma lógica.

Santos escreve que o fenômeno da hipertelia (uma especialização exagerado do objeto técnico) ajuda a explicar porque construímos cada vez mais objetos mais intricados e complexos. Segundo Santos, os objetos concretos “tendem alcançar uma especialização máxima e a obter uma intencionalidade extrema.”

Santos aclara a diferença entre um objeto técnico concreto e um objeto abstrato, citando Thierry Gaudin que escreveu que cada elemento de um objeto concreto “se integra no todo e à medida que o objeto se torna mais concreto, cada qual de suas partes colabora mais intimamente com as outras.” Segundo Simondon, um objeto técnico concreto acaba por ser mais perfeito que a própria natureza porque permite um comando mais eficaz do homem sobre ele.

Santos explica que a tendência de separar o meio técnico e o meio geográfico está errada porque são unidos pelo desenvolvimento do objeto técnico. O meio geográfico começou como meio natural (pré-técnico), que se virou meio técnico ou maquinio, e que agora é meio técnico-científico-informacional. Santos conclui dizendo que o espaço “é um misto, um híbrido, um composto de formas-contéudo.”
3. A Necessidade de um Enfoque mais Abrangente
A grande questão que Milton Santos coloca neste tópico é saber em que medida a noção de espaço pode contribuir para o entendimento do fenômeno técnico, e de outro lado, investigar o papel do fenômeno técnico na produção e nas transformações do espaço geográfico.
O autor inicia este tópico destacando que na relação entre técnica e espaço não se deve esquecer que as técnicas se propagam de forma desigual. Jean Louis Lespes, foi um dos pioneiros em considerar que em um território podem coexistir técnicas provenientes de épocas diversas.
Santos lembra que para J. Perrin um sistema técnico, pode absorver, se existe compatibilidade, estruturas de um sistema precedente. O autor então, chama atenção, que do ponto de vista geográficos, diferentes sistemas técnicos não só existem num local dado, mas estes, formam uma situação no lugar, e que o entedimento disto é fundamental para se tentar entender como as ações humanas se realizam.
A noção proposta por Th. Hughes de “Reverse Salient”, (um Salient é resultante da expansão não homogênea dos sistemas tecnológicos.) é retomada por Santos, que aproxima o conceito de Hughes do seu conceito de “Rugosidade” (rabalhado no livro “Por uma Geografia Nova”) que traz embutida a idéia, de que a produção do espaço é ao mesmo tempo construção e destruição de formas e funções sociais do mesmo.
O autor destaca novamente o caráter evolutivo desigual das técnicas, e examina a história do mundo, para concluir que a aceitação das técnicas sempre foi relativa e incompleta. Santos, cita o exemplo dos EUA, que dominam muitas tecnologias, mas tem um sistema de correio ineficiente, Outro fator que exemplifica este fato, é a relação entre metrópoles e colônias, onde o desenvolvimento tecnológico de uma, era barrado por interesses comerciais de outro.
Se referindo ao mundo atual, Santos afirma que “O processo de globalização, em sua fase atual, revela uma vontade de fundar o domínio do mundo na associação entre grandes organizações e uma tecnologia cegamente utilizada. Mas a realidade dos territórios e as contingências do “meio associado” asseguram a impossibilidade da desejada homogeneização”
A partir daqui Milton Santos chama a atenção dos geógrafos sobre a importância do estudo e do entendimento das técnicas para a compreensão do espaço geográfico, criticando a forma como estes profissionais lidam com essa questão atualmente.
4. As técnicas de empiricização do espaço e tempo

Mais uma discussão epistemológica é apresentada nesta parte. Desta vez, a geografia, para Santos, deixa a desejar ao não englobar o tempo em sua análise. Costuma-se apresentar, assim, um espaço situado fora do tempo. A idéia principal apresentada é a de que não se pode separar espaço e tempo, que são conectados a partir da técnica, já que o trabalho não ocorre sem tempo nem espaço. A técnica é uma forma de tornar o tempo material, isto é, empiricizado, permitindo que espaço e tempo sejam igualados e vistos de forma intrincada.
5. A idade de um lugar.
Milton Santos começa este capítulo perguntando se pode falar em “idade” de um lugar. Juridicamente Salvador da Bahia foi fundada em 1549. Um critério propriamente geográfico também é possível: os geomorfólogos datam grandes áreas segundo a disposição das camadas ou estratos, revelando as fases da historia natural.
Milton pergunta: “Diante das paisagens elaboradas pelo homem, será possível encontrar um método de observação que produza idêntico resultado? Pode a técnica exercer, em relação á geografia, um papel semelhante ao dos cortes geomorfológicos?”
As técnicas são um fenômeno histórico. Por isso, é possível identificar o momento de sua origem, tanto a escala de um lugar quanto a escala do mundo. O capitalismo vai acelerar o processo de internacionalização das técnicas. Neste fim de século esta tendência converteu-se fato, de mão da globalização. Neste momento histórico podemos falar de uma idade universal das técnicas, a partir do momento em que surge cada uma de essas técnicas.
É o lugar que atribui às técnicas o principio de realidade histórica, integrando-as num conjunto de vida, retirando-as de sua abstração empírica e lhes atribuindo efetividade histórica. Quando uma técnica se incorpora á vida de uma sociedade, essa técnica deixa de ser ciência para ser propriamente técnica. É somente quando é utilizada que podemos falar de uma idade propriamente histórica de uma técnica. Num determinado lugar encontramos a operação simultânea de varias técnicas. Essas técnicas particulares são manejadas por grupos sociais com técnicas socioculturais diversas e se dão sobre um território que, ele próprio, em sua constituição material, é diverso, do ponto de vista técnico. Todas essas técnicas, incluindo as técnicas da vida, nos dão a estrutura de um lugar.
Os lugares redefinem as técnicas. Cada objeto ou ação que se instala se insere num tecido preexistente e seu valor real é encontrado no funcionamento concreto do conjunto. Sua presença também modifica os valores preexistentes. Os respectivos “tempos” das técnicas industriais e sociais presentes se misturam, mudando a significação absoluta de essas técnicas e ganhando uma significação relativa, que é impossível em outro lugar e em outro tempo. É assim como se constitui uma espécie de tempo do lugar, um “tempo espacial”.
Com a produção estandardizada e os progressos nas comunicações, a idade das variáveis presentes em um lugar acaba sendo medida com referencia a fatores internos e externos. As relações econômicas presentes em um lugar e a possibilidade concreta de postos de trabalho condicionam as características técnicas de um instrumento de trabalho o uma técnica concreta. A idade de um lugar é medida com referencia a fatores internos e externos. Sobretudo nos países subdesenvolvidos, onde a história da produção é intimamente ligada à criação, nos países do centro, de novas formas de produção.
A obra de Milton Santos e as mídias locativas: o espaço para a criação simbólica e a apropriação de sentido.
“Quanto mais artificial é o meio, maior a exigência dessa racionalidade instrumental que, por sua vez, exige mais artificialidade e racionalidade. Mas esses imperativos da vida urbana estão cada vez mais invadindo o campo modernizado, onde as conseqüências da globalização impõem práticas estritamente ritmadas.”
“O meio geográfico atual, graças ao seu conteúdo em técnica e ciência, condiciona os novos comportamentos humanos, e estes, por sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos, que constituem a base operacional de novos automatismos sociais.”
Milton Santos. A Natureza do Espaço.
Hoje temos uma ampla interação de objetos e ações, que configuram o que Santos chama de meio “técnico-científico-informacional”, onde a técnica mostra sua força modificadora do espaço como nunca. A crise do sujeito aparece como um problema dessa globalização inevitável. Mas para Santos o aspecto humano não se desvaloriza. Santos fala que hoje cada lugar é resultado de uma dialética entre uma razão global e outra razão local.
“A idéia de que o tempo suprime o espaço provém de uma interpretação delirante do encurtamento das distâncias, com os atuais progressos no uso da velocidade pelas pessoas, coisas e informações.”
Milton Santos não concorda com os autores que falam da supressão do espaço na era da informação. Para ele, o que se dá é um novo comando da distancia e, de acordo com ele, o espaço não é definido exclusivamente por essa dimensão. O crescimento das tecnologias da informação não dissolve as cidades, como tem sido freqüentemente anunciado, pois os lugares urbanos e os espaços de fluxo eletrônico influenciam-se mutuamente na cidade eletrônica.
“O agir técnico leva a interações formalmente requeridas pela técnica. O agir formal supõe obediência aos formalismo jurídicos, econômicos e científicos. E existe um agir simbólico, que não é regulado por cálculo e compreende formas afetivas, emotivas, rituais...”
Milton Santos fala que os objetos técnicos promovem conexão, aproximação, vizinhança, apropriações, usos distintos.
“Assim cada lugar, cada subespaço, tanto se define por sua existência corpórea, quanto por sua existência relacional.”
“O fato de o sistemismo dos objetos condicionar o sistemismo das ações não significa que entre eles haja uma relação automática. (...) A interação humana pode forjar novas relações, criando a surpresa e impondo a novidade.”
Em minha opinião, os processos interativos entre sujeitos usando tecnologia móvel estabelecem vínculos, criam sentidos, promovem a apropriação de espaços simbólicos e físicos. Se dá uma nova sociabilidade baseada em convergências de interesses. No há dissolução do vínculo social.
“A tecnosfera se adapta aos mandamentos da produção e do intercambio (...) “A psicosfera, reino das idéias, crenças, paixões e lugar da produção de um sentido, também faz parte desse meio ambiente, desse entorno da vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário.”
Milton Santos fala da “tecnosfera” (mundo dos objetos) que é impossível de separar de outra esfera de ação, que é a “psicosfera” (reio das idéias, crenças e paixões) e lugar de produção de sentido. Esta psicosfera, embora seja a garantia da legitimidade das novas técnicas (que têm legitimidade na forma de pensar tecnológica do tempo atual), também é o reino da improvisação, dos novos usos, da mudança dos usos e dos espaços marcados e definidos “técnica” e “formalmente” pelas novas tecnologias.
Para acabar, apresentamos os conceitos chave do livro de Santos, que estão expressos no título.
A NATUREZA DO ESPAÇÕ. Técnica e tempo, razão e emoção.
Espaço: Coexistência do passado e do presente, reconstruída em um território sob um sistema técnico.
Técnica: Sistema de objetos e ações (potencia e ato) concretizados num entorno social.
Tempo: Historia de um espaço materializado através da recepção, transformação e uso da técnica.
Razão: Fundamento de implementação das técnicas com fines econômicos / instrumentais / sociais / de controle.
Emoção: Capacidade para integrar as técnicas na vida social, mas também para fazer novos usos de elas, interagir, inventar novos sentidos simbólicos e novas apropriações do espaço.
A “emoção” seria o lugar da imaginária, da criatividade simbólica, a oportunidade de apropriação das tecnologias para um uso consciente, livre, critico e transformador.
“O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.”

2 Comments:

Blogger SBL-Geomatics said...
thanks for sharing.. regards Photogrammetry mapping
Blogger Thales said...
Não acredito que este texto deva aparecer nos comentários, mas gostaria que o autor da resenha pudesse lê-lo: Como universitário procurando idéias sólidas para me ajudar em elaborações para um projeto, não tive a coragem de ler seu texto até o fim: logo no início há graves erros no uso da língua portuguesa e, desculpe, como não li o livro, este fato acarreta na total perda de credibilidade que o conteúdo teria se eu terminasse a leitura.

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