Até agora os seres humanos, a fauna e a flora vêm sobrevivendo às situações de mudança, mas se a contaminação aumentar, a capacidade de regeneração e adaptação diminuirá, acarretando a extinção de espécies e de ambientes que antes se constituíam em fonte de vida. Por isto, é urgente um processo de planejamento para prevenir e reduzir a possibilidade de ocorrerem estes danos.
Durante muito tempo, foi alimentada a falsa noção de que os recursos naturais, aí incluídos os recursos hídricos, seriam infinitos e, por isso, não acabariam nunca. Pior ainda foi a crença de que os rios e mares poderiam ser um meio para a lavagem de objetos sujos ou, ainda, que equivaleriam a um depósito para sobras e dejetos indesejáveis que “a água lavaria e levaria embora” para longe. Por conta disso, grande parte da água doce disponível para consumo humano e das águas costeiras já está comprometida, devido ao aumento da contaminação dos corpos d’água superficiais por produtos químicos tóxicos e pela presença de microorganismos patogênicos emergentes que resistem aos tratamentos convencionais de esgoto.
Entretanto, a mesma água que traz e permite tantos benefícios também pode causar danos e destruir toda uma sociedade, todo um organismo.
Devido à má utilização, despejo inadequado de esgotos, resíduos tóxicos, óleos e deficiência no sistema de tratamento de água, ela pode veicular inúmeros microorganismos causadores de doenças prejudiciais à saúde humana.
As diferentes intervenções humanas no meio ambiente, como construções de grandes cidades, devastação de florestas, dragagem de áreas alagáveis, entre outras atividades, têm causado grandes alterações no ciclo da água (Esteves, 1998).
Tabela 1 – Serviços em risco devido os impactos causados por atividades humanas aos ecossistemas aquáticos
Atividade humana | Impacto nos ecossistemas aquáticos | Valores/serviços em risco |
---|---|---|
Construção de represas | Altera o fluxo dos rios, e o transporte de nutrientes e sedimentos e interfere na migração e reprodução de peixes. | Altera hábitats e a pesca comercial e esportiva. Altera os deltas e suas economias. |
Construção de diques e canais | Destrói a conexão do rio com as áreas inundáveis. | Afeta a fertilidade natural das várzeas e os controles das enchentes. |
Alteração do canal natural dos rios | Danifica ecologicamente os rios. Modifica os fluxos dos rios. | Afeta os hábitats e a pesca comercial e esportiva. Afeta a produção de hidroeletricidade e transporte |
Drenagem de áreas alagadas | Elimina um componente-chave dos ecossistemas aquáticos. | Perda da biodiversidade, de funções naturais de filtragens e reciclagem de nutrientes, de hábitats para peixes e aves aquáticas. |
Desmatamento/ uso do solo | Altera padrões de drenagem, inibe a recarga natural dos aqüíferos, aumenta a sedimentação. | Altera a qualidade e a quantidade da água, pesca comercial, biodiversidade e controle de enchentes. |
Poluição não controlada | Diminui a qualidade da água. | Altera o suprimento de água e a pesca comercial. Aumenta os custos de tratamento. Diminui a biodiversidade. Afeta a saúde humana. |
Remoção excessiva de biomassa | Diminui os recursos vivos e a biodiversidade. | Altera a pesca comercial e esportiva. Diminui a biodiversidade. Altera os ciclos naturais dos organismos. |
Introdução de espécies exóticas | Elimina as espécies nativas. Altera ciclos de nutrientes e ciclos biológicos. | Perda de hábitats e alteração da pesca comercial. Perda da biodiversidade natural e estoques genéticos |
Poluentes do ar (chuva ácida) e metais pesados | Altera a composição química de rios e lagos. | Altera a pesca comercial. Afeta a biota aquática, a recreação, a saúde humana e a agricultura. |
Mudanças globais no clima | Afeta drasticamente o volume dos recursos hídricos. Altera padrões de distribuição de precipitação e evaporação. | Afeta o suprimento de água, transporte, produção de energia elétrica, produção agrícola e pesca e aumenta enchentes e fluxo de água em rios. |
Crescimento da população e padrões gerais do consumo humano | Aumenta a pressão para a construção de hidrelétricas e aumenta a poluição da água e a acidificação de lagos e rios. Altera os ciclos hidrológicos. | Afeta praticamente todas as atividades econômicas que dependem dos serviços dos ecossistemas aquáticos. |
Fonte: Tundisi, 2003
Segundo o senso comum, poluir é sujar, macular, profanar, pôr em perigo a vida humana, vegetal ou animal, ou agravar algum perigo já existente. Para o Sistema de Controle Ambiental, poluir é lançar substâncias em quantidade acima da capacidade de autodepuração ou dispersão do meio, ou de qualidade que não possa ser absorvida pela natureza.
O Decreto nº 73.030, publicado no D. O. de 30.10.1973, da Secretaria do Meio Ambiente, definiu, no art.13; §1º, a poluição da água “como qualquer alteração de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas que possa importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações, causar dano à flora e à fauna ou comprometer o seu uso para fins sociais e econômicos”. Os poluentes podem ser agrupados de acordo com a sua origem em diversos grupos, tais como:
- Esgotos pluviais e escoamento urbano: escoamento de superfícies impermeáveis, incluindo ruas, edifícios e outras áreas pavimentadas, para esgotos ou tubos antes de descarregarem para águas superficiais.
- Industrial: fábricas em geral (de papel, químicas, têxteis e produtos alimentícios).
- Agrícola: excessos de fertilizantes que irão infiltrar-se nos solos e poluir os lençóis de água subterrâneos e, conseqüentemente, os rios e mares.
- Doméstico: proveniente das residências.
- Biodegradáveis: substâncias que, ao final de um tempo são decompostas quimicamente ou pela ação dos microorganismos. São exemplos de poluentes biodegradáveis: inseticidas, detergentes, fertilizantes, petróleo, etc.
- Persistentes: substâncias que se mantêm por longo tempo no meio ambiente e nos organismos vivos. Podem causar problemas sérios como contaminação de peixes, crustáceos e outros alimentos. São exemplos de poluentes persistentes: o mercúrio e o DDT.
- Químicos: são os metais, pesticidas, etc.
- Físicos: os que geram aumento da temperatura da água, ou mesmo alterações mecânicas do ambiente com a construção de barragem, alterações do solo, etc.
- Biológicas: são agentes de origem biológica (matéria orgânica) ou mesmo a introdução de seres vivos prejudiciais ao meio ambiente. Nesta categoria, estão os esgotos domésticos.
A transmissão de doenças através da água poluída pode ocorrer tanto pela contaminação durante o banho de mar (contato primário), quanto pela ingestão de alimento contaminado. Segundo WEERELT, 2002, as doenças relacionadas com a água geralmente são classificadas em dois grupos:
- Doenças de transmissão hídrica: aquelas nas quais a que a água atua como veículo do agente infeccioso. Os microorganismos patogênicos, bactérias, fungos, vírus, protozoários e helmintos, atingem a água através das excretas de pessoas ou animais infectados.
- Doenças de origem hídrica: as causadas por substâncias químicas, orgânicas ou inorgânicas, que estão presentes na água em concentrações inadequadas, segundo os padrões para consumo humano. Como exemplo de doenças de origem hídrica, temos: o saturnismo, provocado por excesso de chumbo na água, e a metemoglobinemia em crianças, que é decorrente da ingestão de concentrações excessivas de nitrato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário